Physical Address

304 North Cardinal St.
Dorchester Center, MA 02124

o-principio-da-interseccionalidade-antirracista

O princípio da Interseccionalidade antirracista

O que seria isso? É realmente difícil de entendermos todos esses termos, ao conversar com um ativista na área, ele me explicou que a interseccionalidade significa fazer uma intercessão entre fatores na vida de uma pessoa.

Como seria isso, você olharia raça, sexo, e classe econômica, então, uma pessoa que teria os estereótipos de uma pessoa mais ou menos favorecida poderia ser definido através dessa interseccionalidade.

Ele me deu uma comparação sobre homem, rico e branco conta uma mulher, pobre e negra, e falou que a mulher estaria em desvantagem ao homem, assim como o pobre ao rico, e o negro ao pobre.

Para entender melhor como funcionam esses quadrantes, perguntei se por acaso a comparação fosse com uma mulher, rica e negra, com uma mulher pobre e branca. Ele me disse que cada uma seria oprimida de formas diferentes, uma por ser mulher e negra, e outra por ser mulher e pobre, mas que ambos os grupos são oprimidos de determinada forma.

Não entendi muito bem, porque na primeira comparação trouxe um desfavorecido ao outro, mas na segunda não. Então ele me respondeu que a proposta não é trazer uma análise simplista e estereotipada. 

Indaguei-o novamente, mas não achou que tudo o que você falou foi estereotipado? Ele disse que sim, mas que na realidade, era apenas para começar uma discussão e uma análise.

Ele me explicou que a interseccionalidade é sim estereotipada por grupos e classes, mas que, não era para ficar só na ali na superficialidade, era na realidade apenas uma forma de começar debates nesse sentido.

Ou seja, para ele, ao analisar pelo princípio da Interseccionalidade antirracista deveriamos começar, por exemplo:

  • Por sexo: a realidade de uma mulher, deveríamos começar sendo ela uma pessoa desfavorecida por causa do sexismo e machismo existente na sociedade, e que se do contrário fosse homem, esse seria favorecido por ser homem.
  • Por classe econômica: se a pessoa for rica, ela é favorecida, por ter acessos a coisas que uma pessoa pobre não teria, e por isso, esta é desfavorecida.
  • Por raça: se a pessoa for negra, menos favorecida, por um racismo histórico e estrutural, e se for branca, mais favorecida.

A base das análises seria por esse prisma. Cada grupo teria suas implicações de favorecimento e desfavorecimento, de oprimido e opressor. Entendi o que ele quis dizer, mas não sabiai se na prática funcionaria, pois na proposta de ser antirracista e sem esteriotipação, acabou criando uma evidente esteriotipação e racismo.

Muito paciente, me explicou que entendia minha dúvida, e que era justamente uma abordagem complexa que buscava refletir sobre a realidade, na busca pela desconstrução de conceitos, embora a partida seja sim, os estereótipos. Seria como começar a contar, sempre começa do 0 ou do 1, embora a conta evolua e tenha vários outros números pela frente.

Vamos pegar um exemplo prático, como a que temos na luta pela justiça climática. Se tivermos uma cheias em rios por conta de chuvas muito fortes, o princípio da Interseccionalidade falará que uma pessoa mulher, pobre e negra em condições normais sofreria mais que o homem, rico e branco, pois, em uma cidade, a chance dela fazer ocupações irregulares seria muito grande, e isso a colocaria em risco. Contudo, em uma cheia que saia dos padrões esperados, acabaria afetando também o homem, rico e branco, e isso deveria levar a discussão para outro lado, elevando o nível de complexidade da conversa.

Por fim, acabamos por entender que essa discussão era um pouco confusa e complexa, mas deu para entender a proposta do ativista que fazia uso do princípio da Interseccionalidade antirracista, espero que ele tenha sucesso na prática em suas tarefas, e que outros tenham a mesma paciência que ele teve ao lidar com leigos como eu.